por Sandy Glenda
INTRODUÇÃO
Falar de Caco Barcelos
é falar diretamente de jornalismo investigativo. Durante a ditadura militar,
trabalhou em veículos de imprensa alternativa. Passou pelas revistas Repórter,
IstoÉ e Veja. Já cobriu guerras, catástrofes naturais, guerrilhas e se dedicou
a grandes reportagens investigativas. Na Globo, trabalhou como repórter do
Jornal Nacional, do Fantástico e do Globo Repórter. E, agora, está à frente do
Profissão Repórter, Caco Barcelos comanda os jornalistas, a frente e atrás das
câmeras, ou seja, nos bastidores da informação.
Investigação
Jornalística
- Caco Barcellos
A
investigação jornalística se faz com o repórter ativo, que investiga antes que
a informação se torne pública. Que ouve os envolvidos e, a partir das declarações,
começa a investigar, confrontar a declaração com os fatos que apurou.
Caco Barcellos traz em seu trabalho
a marca da luta em defesa dos Direitos Humanos, o reconhecimento por conta
disso e da constante reflexão que faz sobre o papel dos jornalistas na rotina
das pessoas.
O jornalista destaca situações de
amplo confronto nas cidades, onde a classe social influi sobre a atitude tomada
pela política de Segurança Pública. O que deveria ser denunciado pelos jornalistas,
mas segundo seus registros na cobertura de assuntos policiais a imprensa também
dá tratamento diferenciado às pessoas pelo critério de sua condição social.
Barcellos coloca-se como um
profissional incomodado com a realidade da imprensa e busca não apenas ouvir a
versão oficial dos fatos, mas um pluralismo maior de pessoas e histórias, o contexto, as nuances, o olhar da vítima e não apenas apontar
o dedo para quem cometeu aquele dano.
Em sua jornada já se
enfiou nas entranhas da guerra que assusta ricos e pobres do Brasil. Conheceu
os porões de delegacias e bocas de fumo, promotores e traficantes, pacifistas e
matadores. Jura ser avesso ao risco e só não teme uma bala vingativa porque
trata com respeito e imparcialidade seus alvos.
Algumas vezes estabelece a
utilização de identidade falsa para misturar-se entre os envolvidos na
investigação para apurar dados como uma prática, e usa de um discurso que
coloca a situação da investigação como complexa, ele dispensando maiores
esclarecimentos sobre o uso deste recurso.
-
Caco Barcellos e Profissão Repórter
O Profissão repórter é um programa que ele mesmo
idealizou, em que chefia e apresenta uma jovem equipe de repórteres de TV. Com
a inabalável fé na capacidade transformadora da informação, a mesma que,
segundo ele, também alimenta a onipresente paranoia urbana.
A ideia de fazer o Profissão Repórter surgiu do seu constante envolvimento
com outras histórias e da preocupação em ouvir todos os lados, fazer algo
equilibrado. Dessa forma pensou em fazer reportagens em grupos, sobre o mesmo
tema, com ângulos diferentes, de forma simultânea, deixando mais completa e
permitindo uma narrativa mais rápida.
A seleção de jovens
recém formados, deve-se ao objetivo do programa em servir como uma espécie de “treinamento”
para os jornalistas, desafiando-os a superar obstáculos. Na condução do
desafio, o jornalista Caco Barcellos orienta os participantes ensinando-lhes a lidar
com as dificuldades da profissão. Cada reportagem representa um novo desafio a
ser vencido.
- Profissão Repórter
O programa Profissão
Repórter exibido pela Rede Globo se apresenta como um produto “híbrido” do
jornalismo investigativo por reunir características de diferentes gêneros. Dentro
da perspectiva de trabalhar a informação de forma mais aprofundada, o quadro
Profissão Repórter idealizado pelo jornalista Caco Barcellos é composta por uma
equipe de jovens jornalistas. Os métodos e práticas utilizadas pelos
profissionais se diferenciam da cobertura padrão do telejornalismo. Além de
informar o telespectador, o programa mostra todo o processo de produção da
reportagem desde a apuração até a edição, apresentando assim todas as dificuldades
envolvidas no trabalho dos repórteres.
Caco Barcellos e a equipe de jovens
repórteres vão às ruas para mostrar diferentes ângulos do mesmo fato, da mesma notícia.
A linha de atuação da equipe é o levantamento e a checagem de informações
relevantes e que contribuam para esclarecer situações que não tiveram desfecho
ou são desconhecidas pelo público, embora de interesse da sociedade. Nas narrativas, elementos do cotidiano dos personagens são
revelados. O jornalismo investigativo está presente na sua preocupação em
trazer uma reportagem mais aprofundada e detalhada dos fatos. O programa
investe tempo e dinheiro na produção de suas reportagens, deslocando sua equipe
para qualquer lugar a fim de trazer a informação.
Apesar de explorar a
subjetividade do repórter o programa consegue manter a imparcialidade,
princípio básico do jornalismo, ouvindo sempre todos os lados da notícia e não
se posicionando nem a favor nem contra. Ele simplesmente funciona como um
mediador entre a notícia e o público, reportando os acontecimentos.
CONSIDERAÇÕES
Caco Barcellos e
Profissão Repórter estão diretamente ligados, pois o programa é uma ideia que
surgiu dele. A intenção de Barcelos é mostrar os diferentes ângulos da notícia
com a ajuda de seus repórteres, ele é quem conduz o programa diretamente das ruas,
onde a notícia acontece.
O estilo adotado pelo
programa chama a atenção se comparado a outros de seu gênero. Profissão
Repórter incorpora uma informalidade visível tanto em sua estética como em seu
conteúdo, sem comprometer a credibilidade da informação reportada, mas aproximando
público dos produtores de conteúdo.
A postura mais liberal do programa permite
o aparecimento da subjetividade do repórter, dando vazão para um comportamento mais
humano, mais próximo do telespectador. A subjetividade não é vista como um
problema, mas sim como parte da própria ideologia do programa.